Esta fotografia é a melhor que já me tiraram. Ela pode não ser grande coisa, se comparada com o nível, altíssimo (e cada vez mais alto) das chapas que se apanham diariamente pelo mundo e voam pela net como os Hubbard em Backdoor. Mas a história por detrás do clique pode valer a pena, pois eu sou um amador e o amador é aquele que ama o que fez. E eu escrevo para viver e vivo para escrever, pelo que vamos a visto, “cara”:

Continuo com a mania de vagabundear. Já tenho idade para ter juízo, 30 anos mais precisamente, mas desta vez resolvi vir conhecer o Brasil. “É só mais esta viagem e depois acabou”, juro a mim mesmo, mentindo como sempre, No entanto, agora vim sem material de mar, sabendo que os brasileiros são simpáticos ao ponto de emprestar o seu aos que vêm de fora, assim me contaram por Lisboa e parece que é verdade.

Quão maravilhoso é o nosso desporto, nem que seja pela resistência das nossas pranchas? Cada vez que um surfista entra em depressão por causa de uma tábua partida, há um sapo que salta de alegria. Já para não falar disto: se eu fizesse surf, de certeza que não apanhava ondas deste calibre e eu amo o mar mais do que o desporto em si. Estar em salões de h2o é a coisa mais bonita que existe, o que eu quero mesmo são sprays com água que se conta aos litros, e o meu dermatologista aconselhou-me a ficar nas sombras para me proteger do sol.

E o empréstimo foi fácil, tal como fazer amizade com os locais. Falo português e as nossas ondas andam na boca do mundo, pelo que basta abordar os canarinhos com o meu sotaque e logo eles me falam das nossas “altas ondas”, dos Super, da Nazaré, do Tó Cardoso e de outros orgulhos que defendo com os dentes. Depois perguntam se a água é muito fria e, lembrando-me das matinais geladas onde sofri como um feliz, fico mais orgulhoso ainda.

E a história até é curta, se eu me conseguir controlar nas palavras. Vou de toalha em toalha até que, se avistar uma prancha, peço-a emprestada ao seu dono. Após poucas tentativas, alguém diz que sim e lá vou eu calçar os pés de pato, prometendo a mim próprio que o nosso país é para representar como deve de ser. “Boto p’ra dentro”, sem medo do caldo nem medo de ser feliz, e alguém apanhou a chapa. Estou em Itacoatiara, já agora, e esta praia “casca grossa” faz lembrar em muito a Nazaré e a Praia do Norte.

No pico, comigo, estava Eder Luciano, 3x campeão mundial do ISA Bodyboard Games, que não só parte a loiça como se parte a rir a cada momento e diz que a tuga é o seu destino preferido em todo o mundo. Não existe um brasileiro rastejante que não conheça a Vert Magazine e hoje pensei que o mar é uma coisa estranha: afinal, ele separa Portugal e o Brasil, ou une os dois países?

Não saí deste tubo, nem de nenhum para ser honesto. Mas amanhã há mais, e depois também. Continuem a sonhar. Viajem muito e não tenham medo de nada.


Texto: Luís Brito | Fotografia: Dojule